domingo, 26 de junho de 2022

JAIME DAS MENINAS

As figuras lendárias são enriquecimento cultural para qualquer localidade. Jaime Bispo é uma dessas figuras do Povoado Volta em Nossa Senhora das Dores. Desde cedo se dedicou a lida com o gado. Tornou-se vaqueiro e boiadeiro de estrada, conduzindo as boiadas entre diversas localidades de Jequié, Bahia, a Pernambuco. Lembrando, outrora era o único meio de deslocamento de gado, a presença dos caminhões boiadeiros era rara. Ao mudar-se para Nossa Senhora das Dores aprimorou a arte do aboio que era comum nas jornadas com o gado e passou a organizar eventos que se relacionassem com a vida de gado. Com ajuda de amigos organizou a Cavalgada dos Amigos. Com a presença de vaqueiros da região é uma das cavalgadas mais concorridas. Jaime das Meninas desfila à caráter usando roupa de couro – Gibão – outrora usada para proteger-se dos espinhos e galhos de árvores nos matagais quando cuidavam do gado. Seu paramento e o aboio fazem sucesso. Ele é um obstinado pela arte com a cultura do gado. Num terreno ao lado da casa montou uma estrutura rudimentar de madeira e criou um curral para a prática da tourada. Uma festa frequentada por quem se identifica com a vida de gado, uma atração a mais nas noites de segunda-feira. A tourada aqui consiste em soltar um touro bravo no curral e um ou mais homens ou mulheres pularem para dentro e tentarem tocar no animal, passar entre as pernas do bicho, montá-lo, enfim, caçar o animal. Os corajosos geralmente recebem gorjetas e saem na maioria das vezes machucados e realizados como valentes. Jaime das Meninas é de fato um empreendedor cultural. Como se não bastasse ainda se dedica a organizar e estimular a juventude da Volta a dançarem a quadrilha junina num espaço reservado em sua residência. De fato, ele faz a festa. Em relação ao apelido ele garante que o recebeu por ser gentil e educado com as meninas – as mulheres – por onde andava. Diz não ser casado, mas tem filhos. Realmente, é uma figura transvestida de vaqueiro, boiadeiro, aboiador, promotor de eventos e ilustre cidadão dorense. Autor: Luís Carlos de Jesus (professor e colaborador do Projeto Memórias). Texto publicado originalmente no Guia Perfil do Comércio de Nossa Senhora das Dores. (Nossa Senhora das Dores/SE, 2ª edição, 2013, p. 36.) Foto: João Paulo Araújo de Carvalho, 2011.

segunda-feira, 11 de abril de 2022

HISTORIOGRAFIA SOBRE AS PROCISSÕES DE DEVOÇÃO À PAIXÃO DE CRISTO EM N. SRA. DAS DORES: PATRIMÔNIO CULTURAL IMATERIAL DE SERGIPE

Estamos na "Semana Santa", período no qual os católicos voltam-se para a reflexão sobre a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo, sendo a prática penitencial uma das manifestações de fé mais evidentes nesse contexto devocional. Em Nossa Senhora das Dores, estado de Sergipe, na sexta-feira da "Semana Santa", chamada pelos católicos de "Sexta-feira da Paixão", existem procissões penitenciais, algumas centenárias, que fazem do município um espaço ímpar em todo o estado e no país. Ali ocorrem a Via-Sacra ao Cruzeiro do Século e as procissões do Senhor Morto, do Madeiro e dos Penitentes, essas duas últimas com mais de cem anos. Tal contexto votivo levou essa devoção a ser reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial de Sergipe, por meio da Lei nº 8.051, de 22 de outubro de 2015. Sobre essas manifestações de fé dos habitantes da antiga Enforcados, existem inúmeros trabalhos acadêmicos produzidos. Destacamos, a seguir, quatro escritos historiográficos que nos ajudam a compreender melhor a presença da penitência na cultura sergipana e, em especial, na dorense. Os dois estudos pioneiros foram empreendidos pelas professoras Gisselma Silva de Jesus Almeida e Magneide Santana Lima, emergindo do curso de graduação em História da Universidade Federal de Sergipe. À luz dos conceitos de campo e habitus, de Bourdieu, as referidas historiadoras buscam compreender períodos conflituosos da trajetória de procissões penitenciais que ocorrem na cidade desde o final do século XIX, em cortejos intimamente ligados à oração pela remissão dos pecados de vivos e mortos, bem como ao pagamento de alguma promessa que tenha levado o devoto a alcançar graças através do sagrado. Almeida (2002), em sua monografia “Procissão do Madeiro: devoção e diversão em N. S. das Dores entre os anos de 1992 e 1997”, estudou os conflitos internos na procissão conhecida como “Madeiro”, após a morte de seu líder e descendente da família fundadora dessa manifestação religiosa, Manoel Pajaú. Daí acabou emergindo uma nova liderança e a introdução de cenas da Paixão e Morte de Cristo no percurso da procissão, dentre outras mudanças que passaram a atrair uma multidão de curiosos, mas que, por quebrarem características da “tradição”, desagradaram aos membros mais antigos, gerando conflitos com a família dos seus criadores. Já a monografia de Lima (2002), intitulada “Penitentes de Nossa Senhora das Dores: Explosão de Fé 1990 – 2000”, aborda o crescimento no número de participantes e de acompanhantes da procissão dos “Penitentes”, num processo de atração de pessoas à cidade na “Sexta-feira Santa”, durante a década de 1990, fato que a autora associa à sua divulgação nos meios de comunicação e à quebra de uma das regras da manifestação, qual seja: a não permissão da entrada de menores de 18 anos e os embates que essa flexibilização do habitus promoveu no campo religioso local. Por sua vez, na dissertação apresentada por João Paulo Araújo de Carvalho (2019) ao Programa de pós-graduação em História da Universidade Federal de Pernambuco, que resultou no livro Uma Cruz para os Enforcados: práticas penitenciais em Nossa Senhora das Dores-SE, o autor analisa um conjunto de crenças e ritos associados à penitência e presentes em diversas manifestações religiosas que ocorrem no município na chamada “Sexta-feira Santa”, com foco nas procissões denominadas de Cruzeiro do Século, Madeiro, Senhor Morto e Penitentes, buscando compreendê-las em suas múltiplas temporalidades, embates e apropriações. Por fim, os historiadores João Paulo Araújo de Carvalho e Antônio Bittencourt Júnior (2015) foram autores do dossiê “Procissões de devoção à Paixão de Cristo em Nossa Senhora das Dores (SE)”, que embasou a solicitação encaminhada pelo Projeto Memórias à Assembleia Legislativa de Sergipe, em fevereiro de 2015, e que resultou no reconhecimento de um conjunto de procissões penitenciais que ocorrem no município na “Semana Santa” como Patrimônio Cultural Imaterial de Sergipe.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

PROJETO MEMÓRIAS, UMA REFERÊNCIA (por Domingos Pascoal de Melo, membro da ASL e da ADL)

A ADL – Academia Dorense de Letras, seguindo a sua tradição proativa de sempre estar a um passo a frente, traz a lume a sua segunda Antologia histórica e literária e, agora, a cada acadêmico foi solicitado escrever algo relativo que tivesse estreita relação com a cidade de Nossa Senhora das Dores, o que me deixou muito feliz. Feliz e preocupado, pois, embora sendo, para a minha honra e orgulho, um dos felizardos componentes deste seleto grupo que forma este operoso Silogeu, senti-me, naturalmente, por obvio, pobre de conhecimento para cumprir o solicitado. Senão por um movimento cultural e literário que conheci há alguns anos e aprendi a admirar e valorizar, eu pouco conhecia e conheço, ainda, sobre a rica história daquela cidade. Refiro-me ao Memórias Dorenses, ou Projeto Memória: memória, patrimônio e identidade criado em 2003. Em 2010, quando começamos a semear as sementes de academias literárias nos municípios sergipanos, procuramos primeiro esses movimentos, para que, a partir deles, pudéssemos experimentar a construção do ideado. Este era um dos pensamentos do nosso líder Luiz Antônio Barreto, ele acreditava e, estava absolutamente certo, que deveríamos seguir o que aconteceu com a Academia Sergipana de Letras, que foi criada a partir de um movimento denominado Hora Literária. Ainda, segundo nosso mestre, deveríamos encontrar esses movimentos, identificá-los e fortalecê-los se fosse o caso e, também, criar novos, onde não havia e, somente então, sugerir a criação de uma academia. O primeiro a ser encontrado, foi exatamente o Projeto Memória. Outros foram encontrados, porém, às vezes, somente as referencias e ou estavam inativos, sem funcionar. Outros, ainda, foram criados, contudo, por muitas razões, alguns não prosperaram. Na verdade, procurávamos, então, o fio da meada para que pudéssemos colocá-los ou recolocá-los a andar..., só, que aí o nosso líder veio a adoecer e, fatalmente falecer no dia 17 de abril de 2012. Neste diapasão, tivemos que seguir em frente e, foi fazendo um pouquinho diferente, que seguimos, pois já percebíamos que algo de bom estava prestes a acontecer, não dava para saber qual seria o primeiro: Glória, Tobias, Lagarto, Itabaiana ou Laranjeiras. Algo se prenunciava, mas, recomendava calma pois não tínhamos, ainda a cultura de uma primeira academia no interior de Sergipe. Aconteceu, enfim. Chegou a AGL – Academia Gloriense de Letras, ao que parece, sem suporte de nenhum movimento que a antecedesse. O que não retirou, em absoluto, o valor e nem o brilho dos movimentos, mormente, do Projeto Memória, que continuava muito fortalecido e exercendo à plenitude, todas as suas demandas, cumprindo um papel “sui generis” de uma instituição que sabia aonde queria chegar. Até que, o mesmo grupo que o criou em 2003 e o comandava: Professores João Paulo Araújo de Carvalho, Luiz Carlos de Jesus e Manoel Messias Moura, decidiram, em 2014 fundar a ADL – Academia Dorense de Letras. Projeto memórias, continuou e continua a existir. Na apresentação que os autores do Livro: Memória, Patrimônio e Identidade, lançado com o selo do Projeto Memórias, em 2012, eles mostram bem o que representa este movimento para a cidade, a cultura, o resgate e a preservação da memória daquele povo bom e ordeiro de Nossa Senhora das Dores: “...Como, pois, preservarmos nosso patrimônio, construído ao longo de séculos de história, sem que valorizemos a memória? Como construirmos a dorensenidade, ou seja, nossa identidade dorense, sem sabermos quem somos, sem preservarmos nossa memória? E continua: Foi diante destes questionamentos e da necessidade urgente de salvaguardar nosso patrimônio, vítima de décadas de descaso, que nasceu o Projeto Memória (2003), dele o informativo Cultural Memórias Dorenses (2005) e, depois, a Associação “Nossa Senhora das Dores dos Enforcados” (2006), entidade que hoje já conta com o reconhecimento de utilidade publica nas esferas municipais e estadual e é, desde 2010, o único “Ponto de Cultura” do Médio Sertão Sergipano, chancelado pela Secretaria de Estado da Cultura e pelo Ministério da Cultura por meio da concorrência em edital público e que garante o apoio financeiro a algumas atividades como oficinas, exposição, produção do filme “O Fogo do Cajueiro”, publicações como a deste livro etc.” Não foi outro, repito, o “Projeto Memória” que conheci em 2010, quando para essa linda cidade, mais uma vez, me dirigi. Dores era, na época, além de Itabaiana, Lagarto, Ribeirópolis e, talvez, mais umas duas ou três cidades de Sergipe que eu já conhecia. Para lá havia ido, não lembro o ano, a convite da minha amiga, Edilce Luciene, então Superintendente da CNEC, na época, para dar uma palestra no Colégio Cenecista Regional Francisco Porto. Porém, naquele ano, 2010, impulsionado pela amizade conquistada, via Infographics, Revista Perfil, professor João Paulo, Ary Pereira, Junior da Perfil..., e, por descobrir, naquela oportunidade, que de Dores também era meu, então confrade da Academia Sergipana de Letras, José Lima Santana, acadêmico por quem já nutria e, nutro ainda, muito respeito e admiração. Foi nesta época que mais feliz fiquei em conhecer o operativo Projeto Memória, instituição que estava diretamente envolvida com a cultura, a literatura, as artes plásticas e o artesanato. Participei de alguns eventos sob a sua chancela e deu para mensurar o quanto ele representava e representa no cenário local. O Projeto Memória foi e é uma referência digna de toda a nossa atenção pelo muito que fez e fará ainda, agora irmanado e fortalecido pela Academia Dorense de Letras, pela cultura, pela literatura, pelas artes, pela memória e história desta cidade e deste povo bom de Nossa Senhora das Dores.
* Texto originalmente publicado na 2ª Antologia Literária da Academia Dorense de Letras (Editora Brasil Casual, 2018, p. 36-36)

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Povoado Itapicuru rende graças a seu filho mais ilustre

Na última sexta-feira, 16 de janeiro de 2015, os instrumentos de trabalho da roça repousaram no povoado Itapicuru, município de Nossa Senhora das Dores. A enxada, a foice e o empenado ficaram no canto sem uso, pois, seus donos deixaram por alguns instantes a lida diária para homenagear o mais ilustre filho daquele chão pela passagem dos seus 84 anos e também pelo lançamento de seu livro, no qual o povoado é uma das fontes de inspiração para os versos ali contidos. Foi um dia memorável para todos os moradores de Itapicuru e também dos vizinhos Borda da Mata, Cachoeirinha, Maçaranduba e Gado Bravo Sul que ali também estiveram. A Escola Anísio Teixeira ficou pequena para as pessoas que durante toda a manhã se aglomeraram em torno da obra do cordelista itapicuruense José Barbosa, mais conhecido na região como Josias. No dia do seu aniversário natalício, 84 anos, a Academia Dorense de Letras e o Projeto Memórias presentearam o aniversariante e seus conterrâneos com o lançamento da obra completa de José Barbosa, obra esta até então quase toda inédita e que agora se perpetuará para as gerações vindouras. Apenas 10 dos seus trabalhos já tinham sido publicados anteriormente, com apenas 10 unidades de cada. Estes trabalhos foram levados a Dores pelo itapicuruense Renato (conhecido como Renato motorista da prefeitura) e entregues ao agente cultural Ari Pereira há alguns anos. Ari deu acesso ao Projeto Memórias que fez a publicação, em 2010, de 100 exemplares de “Vida de Cangaceiro”. Afora estes 10 trabalhos, os demais estavam apenas em sua memória e foram objeto de várias visitas do Projeto e depois da ADL para gravação em vídeo ao longo destes anos, até que agora as mesmas deram lugar ao livro. Além dos moradores dos povoados já citados, o lançamento do livro “Meu nome é José Barbosa, meu apelido é Josias...” contou com as presenças dos acadêmicos da Academia Dorense de Letras (Ari Pereira de Souza, Domingos Pascoal de Melo, Gilberto Luiz Araújo Santana, João Paulo Araújo de Carvalho, José Barbosa e Luís Carlos de Jesus), da Academia Itabaianense de Letras (Antônio Francisco de Jesus, o Saracura), da Academia Lagartense de Letras (Euclides Oliveira) e da Academia Laranjeirense de Letras (Augusto dos Santos) e dos Professores Genilton Costa (representado a Secretaria Municipal de Educação), Maria Rivaneide (diretora da Escola Anísio Teixeira) e Maria Auxiliadora de Oliveira (Sily). O evento foi abrilhantado pelo Grupo “Música no Campo”, que faz parte da Ong Cultivar (povoado Gado Bravo Sul) e é contemplado pelo Projeto “Criança Esperança”, bem como pelos poetas Jânio Vieira (povoado Gentio), Carlos César (povoado Borda da Mata), Cleones e Crisnanda, que declamaram poesias em homenagem ao aniversariante. Espetáculo à parte foi a participação da irmã do autor, Maria Jovina, 93 anos, que também declamou e encantou a todos os presentes. Também marcou presença a poetisa dorense Maria Anete Santana (atualmente residente em São Paulo), que é natural da região. Ao final, o mais ilustre filho do Itapicuru, Josias, declamou vários de seus versos levando os presentes, como de costume, às gargalhadas. Momento de grande emoção foi o dos agradecimentos da sobrinha do autor, Maria Anita, conhecida como Lia, que demonstrou toda a felicidade em ter a oportunidade de cuidar e amar José Barbosa, figura querida e admirada por todos no povoado e agora também conhecido e admirado na circunvizinhaça. Em breve, a ADL e o Projeto Memórias promoverão, na cidade de N. Sra. das Dores, o lançamento do livro “Meu nome é José Barbosa, meu apelido é Josias...”, cuja renda será toda revertida a atividades culturais e sociais. A cobertura jornalística do evento ficou a cargo da jornalista Delmanira Brito, do site visitedores.com. Sobre o autor: José Barbosa, o popular Josias, nasceu em 16 de janeiro de 1931 no povoado Itapicuru, em Nossa Senhora das Dores. Como muitos conterrâneos nordestinos ainda criança foi apresentado pelo pai (Aniceto Barbosa dos Santos) à literatura de cordel, pela qual se apaixonou. Após décadas trabalhando no Estado de São Paulo, ao aposentar-se retornou à terra natal. Em toda a região de Itapicuru e Capunga (Moita Bonita) é conhecido pelo seu estilo engraçado e versejador, um típico trovador a criar versos de improviso. José Barbosa é um cordelista eclético, encontrando inspiração para seus trabalhos no seu chão natal (destaque para Os fundadores do Itapicuru), no cotidiano do homem do campo (A queimada do Mucambo), mas estando também antenado com os acontecimentos do país e do mundo, escrevendo de um jeito engraçado sobre diversos temas do mundo atual como A morte de João Paulo II, A eleição de Barack Obama, A reunião do G-20, A morte de Pipita, A gripe suína, A queda do avião do vôo 447, A vaca louca, A Copa do Mundo no Brasil, dentre outros. A maioria dos seus trabalhos até hoje era inédita, sendo agora reunida pelo Projeto Memórias e pela Academia Dorense de Letras nesta obra. José Barbosa é um dos fundadores da Academia Dorense de Letras, ocupando a cadeira nº 2, cuja patronesse é a comunicadora Marizete Costa Vieira. Por, Professor João Paulo Araújo de Carvalho Presidente da Academia Dorense de Letras Confira as fotos aqui neste link: https://www.facebook.com/visitedores/photos/pcb.425817874237617/425803784239026/?type=1&theater fotos: Delmanira Brito visitedores.com

domingo, 11 de janeiro de 2015

LIVRO DE CORDELISTA DORENSE SERÁ LANÇADO NO PRÓXIMO DIA 16 DE JANEIRO

A Academia Dorense de Letras, em parceria com o Projeto Memórias, lançam no próximo dia 16 de janeiro o livro "Meu nome é José Barbosa, meu apelido é Josias...", que reúne a obra do acadêmico e cordelista José Barbosa. O livro será lançado no dia do aniversário de 84 anos do autor e você é nosso convidado especial para esta grande festa literária. Local: Escola Municipal Anísio Teixeira (povoado Itapicuru) Dia e horário: 16 de janeiro, às 9 horas Abraço fraterno, Professor João Paulo Araújo de Carvalho Presidente da Academia Dorense de Letras Ari Pereira de Souza Presidente do Projeto Memórias

sábado, 2 de agosto de 2014

POVOADOS PRESERVAM MEMÓRIA HISTÓRICA E CULTURAL

Por João Paulo Araújo de Carvalho (em Guia do Comércio de Nossa Senhora das Dores, 2014, páginas 35, 39 e 40) O autor é professor, Mestre em História, escritor, membro da ADL e do Projeto Memórias. O município de Nossa Senhora das Dores possui cerca de 25 povoados, nos quais, de acordo com o censo de 2010 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), estão situados 8.553 habitantes (num total de 24.580). Nestes logradouros ou ao redor dos mesmos concentram-se parte considerável da produção econômica da municipalidade, tais quais a criação de gado e o cultivo de cana-de-açúcar, milho, mandioca, banana etc, além de algumas indústrias como olarias, casas de farinha e usina de beneficiamento da cana. Nos povoados dorenses também é possível perceber uma presença mais forte da memória histórica e cultural do município, uma vez que neles as tradições, as históricas, as lendas, as artes e ofícios antigos têm sido mais facilmente preservados do que na cidade, onde as mudanças de comportamento se processam mais rapidamente. Em Maçaranduba encontram-se os últimos tocadores de pífano; no Gado Bravo Sul o derradeiro grupo de reisado; em Cruzes e Carro Quebrado a produção artesanal de vassouras de pindoba; no Sapé a arte de fabricar esteiras e esteirões de junco; em Borda da Mata os bordados; no Ascenso e no Gentio a tradição religiosa centenária da Procissão do Madeiro; Itapicuru é o berço da literatura de cordel, a mais popular das poesias, pois lá nasceu o cordelista José Barbosa; no Gado Bravo Norte encontram-se várias tradições religiosas e culinárias, além de ali ter nascido a poetisa Maria Salete Nascimento; em Cruzes, na Serra, no Cajueiro e nas proximidades da Varginha encontram-se lugares de memória ligados à presença do cangaço; em Cachoeirinha a preservação da memória no Museu Caipira; já o Taborda é berço do maior nome da literatura dorense, o professor e escritor Manoel Cardoso; dentre outros exemplos. (...) LEMBRANÇAS DA SAGA CANGACEIRA Entre as décadas de 1920 e 1930 o município de Nossa Senhora das Dores fez parte da rota sergipana dos cangaceiros, em especial dos bandos de Lampião e Zé Sereno. Das suas inúmeras incursões pelo solo dorense restaram várias histórias registradas em jornais, documentos escritos, livros, mas, sobretudo, nas memórias dos personagens que viveram a época, como é o caso de Antônio Cardoso de Oliveira (Juquinha), João Alves de Moura (João de Libâneo) e José Garcia Vieira (todos já falecidos e cujas histórias estão registradas em artigos, documentários e vídeos), além de Ebron Alves Feitosa, Isaura Clementina Lopes, Manoel dos Santos (Manezinho da Volta) e Manoel dos Santos Porto (Portinho), que além de terem suas memórias igualmente registradas continuam a contá-las e recontá-las. No mais, existem diversos lugares de memória que foram cenários das histórias vividas por estes e por outros personagens. Tais locais ajudam a entender o desenrolar dos acontecimentos e resistem como monumentos a registrar os fatos. O centro da cidade foi palco da primeira “visita” do grupo de Lampião em 1929, em cujo roteiro inclui a praça José Ivan Pereira dos Anjos onde ocorria a feira livre na qual os cangaceiros andaram, assim como a rua João dos Reis Lima Neto (calçadão) e a praça Cônego Miguel Monteiro Barbosa (praça da Matriz), onde residiam os homens ricos da cidade que foram obrigados a colaborar com dinheiro para a “bolsa” que evitou maiores transtornos aos dorenses. Ali também se situavam a casa do Intendente (prefeito) Manoel Leônidas Bomfim (praça José Ivan) e diversas casas comerciais nas quais os bandoleiros se abasteceram de víveres. Tais lugares de memória ajudam ainda a conhecer o tamanho da cidade na época, uma vez que trincheiras foram construídas nas entradas da cidade. As trincheiras eram buracos no chão que serviam de guarita para os soldados da volante que foram contratados para proteger a cidade e evitar nova incursão do grupo lampiônico. Elas localizavam-se nas esquinas das atuais ruas Benjamin Constant com Edézio Vieira de Melo (nas proximidades da popular padaria de Borrachinha), das ruas Francisco Porto com Tertuliano Junqueira Simões (perto da antiga bodega de dona Carmelina) e das avenidas Lourival Baptista e Presidente Médici com a praça Joel Nascimento. As trincheiras evitaram nova entrada do bando de Virgulino Ferreira da Silva em Dores no ano de 1930. Porém, como não conseguiu seu objetivo, o mesmo cometeu diversos crimes na periferia e em povoados circunvizinhos, sequestro e estupro da mulher de Santo bodegueiro no Ascenso, sequestro no Cruzeiro das Moças e assassinato na fazenda Candeal (próximo ao povoado Varginha) de José Elpídio dos Santos, assassinato de um deficiente mental (cujo nome não se registrou para a história) e castração de Pedro Batatinha no povoado Taboca, fazendo de tais locais igualmente lugares de memória do cangaço em solo dorense. De todos esses crimes, apenas o assassinato de Elpídio foi investigado pela Justiça, fazendo de Dores a única cidade sergipana a processar criminalmente Lampião. Da saga lampiônica também resistem locais que representam o temor vivido pela população da época. É o caso da Mata da Serrinha (povoado Serra) e da Gruta da Salvação (povoado Cruzes), lugares que eram utilizados pelo povo que sofria as agruras daquele tempo para se esconder quando ouvia notícias de cangaceiros na redondeza. Tais locais, de mata fechada e difícil acesso, passavam à população a sensação de segurança, fazendo com que os mesmos ali se refugiassem até mesmo durante dias. Igualmente, existem ainda os registros da presença do bando liderado por Zé Sereno (José Ribeiro Filho), na verdade um subgrupo do bando de Lampião. Trata-se da fazenda Cajueiro, situada no povoado de mesmo nome, que pertencia ao Coronel Vicente Figueiredo Porto e que Sereno invadiu, ocorrendo nela cerrado tiroteio entre cangaceiros e o coronel numa noite da década de 1930. Era o chamado “Fogo do Cajueiro”. Outro combate envolvendo cangaceiros em Dores ocorreu em 1937 (um ano antes da morte de Lampião em Angicos, Sergipe, e do início do fim do cangaço lampiônico). Foi o “Fogo do Salobro”, ocorrido na fazenda Salobro (do Coronel Manoel Leônidas Bomfim) e que envolveu o bando de Zé Sereno e a volante de Balthazar, que vinha no seu encalço desde o Saco do Ribeiro (atual Ribeirópolis). Nesse confronto, um cangaceiro foi morto e decapitado, tendo sua cabeça levada até a capital como troféu. Assim sendo, a saga cangaceira deixou muitas lembranças em solo dorense, tanto na cidade quanto no interior do município, sendo que estes locais de memória têm atraído cada vez mais a atenção de pesquisadores e podem, no futuro, atrair também turistas, como ocorre em várias partes do nordeste brasileiro.

domingo, 14 de abril de 2013

PONTO DE CULTURA MEMÓRIA, CULTURA E CIDADANIA RECEBE O ARTISTA VISUAL ELIAS SANTOS

Contemplado pelo edital Bolsa Interações Estéticas - Residências Artísticas em Pontos de Cultura, do Governo Federal, Ministério da Cultura, Secretaria da Cidadania e Diversidade Cultural, Funarte, Mais Cultura e Cultura Viva, o artista e xilogravador sergipano Elias Santos propõe continuidade com suas ações em favor da difusão da arte da xilogravura. Após passar pelo Ponto de Cultura Samba de Coco: história, tradição e resistência na Barra dos Coqueiros, em 2013 realiza o projeto Gravura em Dores na Rota do Cangaço, na cidade do agreste sergipano, Nossa Senhoras das Dores. Acolhido pelo Ponto, Memória, Cultura e Cidadania dos historiadores Manoel Messias e João Paulo, nessa edição o tema a ser abordado será o Cangaço. As ações iniciaram no mês de fevereiro, com oficina de xilogravura e em março e abril acontece a oficina de serigrafia. Ao final as camisas produzidas serão comercializadas a preços populares a fim de gerar renda para a comunidade e para o Ponto de Cultura. Todas as ações são ofertadas gratuitamente. O cangaço em Sergipe possui presença marcantena região do agreste e sertão sergipano. O Ponto de Cultura Memória, Cultura e Cidadania desenvolvido na cidade de Nossa Senhora das Dores, em Sergipe, foi proposto com a finalidade de realizar trabalhos que estimulem o fortalecimento e continuidade da cultura dorense, por meio das artes plásticas, da literatura de cordel e do audiovisual, destacando a produção do filme “O fogo do cajueiro” o qual abordará sobre o cangaceiro Zé sereno e seu bando em sua passagem na cidade de Dores. Somado as suas ações a xilogravura dará sua contribuição e fortalecerá e dinamizará as ações deste ponto de cultura. O projeto é coordenado pelo xilogravador sergipano, Elias Santos, o qual já realizou projeto no Ponto de Cultura Memória, Cultura e Cidadania e volta para aprimorar e ampliar os ensinamentos sobre a xilogravura e levar a serigrafia como outro recurso gráfico, para intervenções artísticas e elaboração de produtos, tendo o cangaço, entre seus personagens e suas paisagens, como mote para a criação. Para a realização dessa ação o proponente conta também com o apoio cultural da Prefeitura Municipal de Nossa Senhora das Dores e do Senac-SE. Sobre o artista Elias Santos – É artista visual, xilogravador, desde 1982. Graduado em História,estudou como bolsista na Escola de Belas Artes da UFBA.Participou de oficinas de xilogravura e litogravura no Museu de Arte Moderna da Bahia e de desenho no Colégio Comunitário de Lincoln, em Rhode Insland nos Estados Unidos. Fez diversas exposições individuais e participou de inúmeras coletivas. Foi também premiado em Salões de Arte pelo país. Leciona as aulas de artes visuais no SENAC-SE desde 1983. Em 2005 criou o projeto Gravura de Inverno, desenvolvendo ações em favor da xilogravura.Foi contemplado em duas edições da Bolsa Interações Estéticas, Rede Nacional, entre outros editais da Funarte, do Ministério da Cultura,Banco do Nordeste e da Secretaria de Estado da Cultura de Sergipe. Sobre o edital A Bolsa Interações Estéticas tem como objetivo apoiar projetos por meio do intercâmbio cultural e estético em rede, através de iniciativas de residências, que promovam a mobilidade, a experimentação artística e a reflexão crítica, fortalecendo e realimentando com ações inovadoras a rede de artistas e pontos de cultura e comunidades que, direta ou indiretamente, se relaciona com o projeto desenvolvido. Na categoria continuidade o projeto Gravuar em Dores na Rota do Cangaço foi o único premiado no Estado de Sergipe.